O CADÊ Paraná, plataforma de dados sobre os direitos humanos de crianças e adolescentes do Centro Marista de Defesa da Infância, acaba de lançar o seu segundo informe temático que nesta edição incide sobre o tema “Obesidade Infantil: questões preliminares de um problema de Saúde Pública”. A publicação marca o Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil, assinalado todos os anos no dia 3 de junho, e traz questões relevantes para a defesa do direito humano à alimentação adequada e para a construção de políticas públicas que respondam ao problema da obesidade e da situação nutricional das crianças com soluções eficazes e sustentáveis.
De acordo com o estudo, que apresenta dados coletados do SISVAN Web (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional) do Ministério da Saúde (2017) sobre as crianças atendidas no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do estado do Paraná, a obesidade grave prevalece entre os meninos de 5 a 10 anos em todos os anos analisados (2008 a 2016). Em 2016 este número chegou a 80 mil meninos com obesidade grave, contra aproximadamente 75 mil meninas. No mesmo ano, aproximadamente 300 mil meninas entre 5 e 10 anos já apresentavam sobrepeso, contra aproximadamente 180 mil meninos. Já o número de crianças obesas a prevalência tanto para meninas quanto para meninos está na faixa dos 0 a 5 anos. Em 2016, pouco mais de 150 mil meninos e 125 mil meninas já eram considerados obesos.
Entre os fatores de desproteção que facilitam a obesidade infantil estão o consumo de alimentos ultraprocessados e o excesso de açúcar e gordura antes dos 2 anos de idade. Sobre estes tópicos, o estudo fornece informações preocupantes, tais como: 55% das crianças paranaenses menores de 6 meses consomem alimentos ultraprocessados, 69% das crianças entre 6 e 23 meses consomem bebidas adoçadas e 66% das crianças entre 5 a 9 anos consomem macarrão instantâneo. “O mais indicado é o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, uma diversidade alimentar mínima e o consumo de frutas, verduras e legumes regularmente”, explica a nutricionista Carolina Dratch, do programa de Mestrado em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) uma das responsáveis pela pesquisa.
Outro ponto de destaque é a inatividade física. Carolina afirma que “com o aumento da violência em grandes centros, principalmente, as crianças ficam ‘confinadas’ em apartamentos ou casas, aumentando muito o tempo dispensado em frente à uma televisão, videogame, computador e jogos em celulares”.
Os hábitos de saúde e nutrição da família e como ocorre as escolhas e o acesso aos alimentos saudáveis também influenciam para a situação de obesidade em crianças . “A falta de ações de educação permanente para os profissionais de saúde faz com que a família também não receba acolhimento e orientação adequados em relação à alimentação saudável – desde o incentivo e apoio ao aleitamento materno e introdução da alimentação complementar em tempo oportuno e da forma mais adequada”, afirma Carolina.
De forma mais ampla, o problema da obesidade se apresenta de maneira estrutural, o que demanda esforços das diferentes estruturas sociais e políticas inter setoriais a fim de promover o direito humano à alimentação saudável e garantir a segurança alimentar e nutricional. “Ao afirmar que a alimentação deve ser adequada entende-se que ela seja apropriada ao contexto e às condições culturais, sociais, econômicas, climáticas e ecológicas de cada pessoa, etnia, cultura ou grupo social, além de prever o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”, explica Carolina.
Fonte: Carolina Dratch, mestranda pela PUCPR no programa de Bioética e uma das autoras do informe | (41) 99844-2802 | [email protected]